TRADIÇÕES
Falar sobre Tradição não é um assunto simples dentro da Bruxaria.
De acordo com o dicionário “Tradição é um método específico de ação, atitude ou ensinamentos que são passados de geração para geração”.
Por exemplo, na Wicca consiste em um conjunto de rituais, ética, instrumentos e crenças que são passados para os iniciados de um determinado coven, ela mesma é subdividida em diversas Tradições, cada uma com sua própria estrutura, rituais e mitos próprios passados de praticante para praticante.
Mas todas elas seguem um mesmo princípio:
A celebração da Deusa e do Deus através de rituais sazonais ligados à Lua e ao Sol, os Sabaths e Esbaths.
O respeito à Terra, que é encarada como uma manifestação da própria Deusa.
A magia é vista como uma parte natural da Religião e é utilizada com propósitos construtivos, nunca destrutivos.
O proselitismo é tido como inadmissível.
Modificada de uma Tradição para outra, a filosofia, os ritos, as concepções são diversas e diferentes e isso acontece, às vezes, dentro de uma mesma linha. Com uma certa freqüência, algumas Tradições não reconhecem um iniciado em outra, o que faz com que muitos praticantes da Bruxaria se iniciem em mais de uma Tradição distinta.
Existem alguns pontos divergentes entre as diversas Tradições, como por exemplo, o Livro das Sombras.
Cada uma possui seu próprio onde são descritos seus Ritos sagrados e as idéias sobre a Divindade. Em alguns casos é comum os integrantes de uma Tradição afirmar que o seu Livro é o único descendente do primeiro Livro das Sombras redigido.
Outro ponto de divergência entre as Tradições relaciona-se à hierarquia. Algumas são extremamente hierárquicas, enquanto em outras a hierarquia é inadmissível e tida como tabu.
Algumas Tradições aceitam e incentivam seus membros a praticarem Bruxaria sozinhos, enquanto em outras é terminantemente proibido a prática mágica de qualquer tipo fora do Coven e sem a supervisão do Alto Sacerdote ou da Alta Sacerdotisa. Devido à grande quantidade de tradições existentes, e da pouca ou nenhuma informação disponível sobre elas, torna-se difícil escolher uma definida.
Algumas Tradições
Por necessidade, estas definições são gerais, pois cada Bruxo mesmo que faça parte de uma Tradição específica poderia definir seu caminho como sendo diferente.
Tradição 1734: A tradição 1734 de Wiccan foi desenvolvida por Robert Cochrane, um poeta britânico e o filósofo. Procurou restaurar “a velha religião”.
A tradição 1734 é desenvolvida fora de uma série da correspondência entre Robert Cochrane e Joseph Wilson, um americano.
A tradição 1734 não há nenhuma estrutura hierárquica oficial. Focaliza no meditação.
A tradição 1734 usa um arranjo diferente da colocação dos elementos e de seus rituais do que a maioria de tradição de Wiccan.
Tipicamente britânica é às vezes uma Tradição eclética baseado nas idéias do poeta Robert Cochrane, um auto-intitulado Bruxo hereditário que se suicidou através da ingestão de uma grande quantidade de beladona. 1734 é usado como um criptograma (caracteres secretos) para o nome da Deusa honrada nesta tradição.
Tradição Alexandrina: Uma Tradição popular que começou ao redor da Inglaterra em 1960 e foi fundada por Alex Sanders. A Tradição Alexandrina é muito semelhante a Gardneriana com algumas mudanças menores e emendas. Esta Tradição trabalha à maneira de Alex e Maxine Sanders, que diziam terem sido iniciados por sua avó em 1933. A maioria dos rituais são muito formais e embasados na Magia cerimonial. É também uma tradição polarizada, onde a Sacerdotisa representa o princípio feminino e o Sacerdote o princípio masculino. Os rituais sazonais, na maior parte são baseados na divisão do ano entre o Rei do Azevinho e o Rei do Carvalho e diversos dramas rituais tratam do tema do Deus da Morte/Ressurreição. Como na Tradição Gardneriana a Sacerdotisa é elevada à autoridade máxima. Entretanto, os precursores para ambas Tradições foram homens. Embora similar a Gardneriana, a Tradição Alexandrina tende a ser mais eclética e liberal. Algumas das regras estritas Gardnerianas, tais como a exigência do nudismo ritual, são opcionais.
Alex Sanders intitulou-se a certa altura “Rei das Bruxas”, considerando que o grande número de pessoas que tinha iniciado na sua tradição lhe dava esse direito. Nem os seus próprios discípulos o levaram muito a sério, e para a comunidade Pagã no geral esse título foi apenas motivo de troça, quando não de repúdio. Janet e Stewart Farrar são os mais famosos Bruxos que divulgaram largamente a Tradição Alexandrina em suas publicações.
Tradicional Britânica:
Uma Tradição com uma forte estrutura hierárquica e graus. Os Rituais estão centrados na Tradição Céltica e Gardneriana.
Wicca Céltica: Uma Tradição muito telúrica, com enfoques na natureza, os elementos e elementais, algumas vezes fadas, plantas, etc. Muitas “Bruxas Verdes” (Green Witches) e Adeptos do Druidismo seguem este caminho, centrado no panteão Céltico antigo e em seus Deuses e Deusas.
Tradição Caledoniana ou Caledonni: Uma tradição que tenta preservar os antigos festivais dos escoceses e às vezes é chamada de Tradição Hecatina.
Tradição Picta: É uma das manifestações da Bruxaria tipicamente escocesa. Na maioria das vezes é uma forma solitária da Arte. Seu enfoque prático é basicamente mágico e possui poucos elementos religiosos e filosóficos.
Bruxaria Cerimonial: Usa a Magia cerimonial para atingir uma conexão mais forte com as divindade e perceber seus propósitos mais altos e suas habilidades. Seus Rituais são freqüentemente derivações da Magia Cabalística e Magia Egípcia. Embora certamente, mas não de forma intencional, este caminho é infestado freqüentemente por egoístas e pessoas inseguras que usam a Magia Cerimonial para duas finalidades (adquirir tudo aquilo que querem, atingir níveis mais altos para poderem olhar de cima). Estes atributos não são uma regra em todos os Bruxos Cerimoniais, e há muitos Bruxos sinceros neste caminho.
Tradição Diânica: Algumas Bruxas Diânicas só enfocam seus culto na Deusa, são muito politicamente ativos, e feministas. Outras simplesmente enfocam seu culto na Deusa como uma forma de compensar os muitos anos de domínio Patriarcal na Terra. Algumas usam este título para denotar que são “as Filhas de Diana”, a Deusa protetora delas. Há Bruxas Diânicas que são tudo isto, algumas que não são nada disto, e outras que são um misto disto. A Arte Diânica possui duas filiais distintas: Uma filial, fundada no Texas por Morgan McFarland que dá a supremacia à Deusa em sua thealogy, mas honra o Deus Cornífero como seu Consorte Amado e abençoado. Os membros dos Covens dividem-se entre homens e mulheres. Esta filial é chamada às vezes “Old Dianic” (Velha Diânica), e há alguns Covens descendentes desta Tradição, especialmente no Texas. Outros Covens, similares na thealogy, mas que não descendem diretamente da linha de McFarland, e que estão espalhados por todo EUA.
A outra filial, chamada às vezes de Feitiçaria Feminista Diânica, focaliza exclusivamente a Deusa e somente mulheres participam de seus Covens e grupos. Geralmente seus rituais são livres e não são hierárquicos, usando a criatividade e o consenso para a realização de seus rituais. São politicamente um grupo feministas. Há uma presença lésbica forte no movimento, embora a maioria de Covens estejam abertos a mulheres de todas as orientações.
Tradição Georgina: Esta Tradição foi criada por George Patterson, que se auto intitulou como sendo um “Sumo Sacerdote Georgino”. Quando começou o seu próprio Coven, chamou-o de Georgino, já que seu prenome era George. Se há uma palavra que melhor pode descrever a Tradição de George, seria “Eclética”. A Tradição Georgina é um composto de rituais Celtas, Alexandrinos, Gardnerianos e tradicionais. Mesmo que a maior parte do material fornecido aos estudantes sejam Alexandrinos, nunca houve um imperativo para seguir cegamente seu conteúdo. Os boletins de noticias publicados pelo fundador da Tradição estavam sempre cheio de contribuições dos povos de muitas outras Tradições. Parece que a intenção do Sr. Patterson era fornecer uma visão abrangente aos seus discípulos.
Ecletismo:
Um Bruxo eclético é aquele que funde idéias de muitas Tradições ou fontes. Assim Como no caldeirão de uma Bruxa, são somados elementos para completar a poção que é preparada, assim também são somadas várias informações de várias Tradições para criar um modo mágico de trabalhar. Esta "Tradição" que realmente não é uma Tradição é flexível. Geralmente, são criados rituais e Covens de estrutura livre.
Tradição das Fadas ou Fairy Wicca: Há várias facções da Tradição das Fadas. Segundo os membros desta Tradição, seus ritos e conhecimentos tiveram origem entre os antigos povos da Europa da Idade do Bronze, que ao migrarem para as colinas e altas montanhas devido às guerras e invasões ficaram conhecidos como Sides, Pictos, Duendes ou Fadas. Uma Bruxa desta Tradição poderia ser ou trabalhar com energias da natureza e espíritos da natureza, também conhecidos como fadas, Duendes, etc. Alguns dos nomes mais famosos desta Tradição são Victor e Cora Anderson, Tom Delong (Gwydion Penderwyn), Starhawk, etc. .
Os seus Precursores são Victor Anderson - nasceu em 1917 e dizia-se descendente de Havaianos e Africanos. Ele foi iniciado no Coven Harpy, em Bend, Oregon, ainda em sua adolescência. O Coven Harpy era um Coven da Fairy Tradition (Tradição das Fadas), que se distinguia muito dos Círculos Gardnerianos e Neo-Pagãos vigentes até então. O Coven Harpy se dissolveu na época da segunda guerra mundial. Victor Anderson casou-se com Cora em 1944 e juntos começaram a introduzir outros conhecimentos e práticas, inclusive materiais das Tradições Gardneriana a Alexandrina, à Tradição das Fadas e resultou no que mais tarde passou a ser chamada de Fairy Wicca ou Feri Faith. Em 1960, Victor e Cora conheceram Gwydion Pendderwen que se tornou um dos mais renomados iniciados do casal Anderson. Gwydion espalhou os conhecimentos da Fairy Wicca na comunidade Neo-Pagã dos anos 70 até meados de 80. Infelizmente Gwydion morreu em um acidente de automóvel em 1981, mas deixou belos cânticos e invocações utilizadas até hoje na liturgia da Tradição. Abaixo dois textos tradicionais da Fairy Wicca, um escrito por Gwydion e outro por Victor Anderson:
O Nome Por Gwydion Pendderwen
“Ela é a uivadora dos muitos ventos”.
Seu nome é as cinco estações do ano.
Amante do primeiro Senhor
Mãe de dúzias de Deuses que andam pelos caminhos estrelados
Irmã e Esposa do Portador da Luz
Mulher Ela é, de nobre poder da paixão
Branca e azul ao mesmo tempo e ainda o Arco-íris,
Negra como o nulo sonho escuro “ ”.
Bênçãos Por Victor Anderson - do livro "Espinhos da Rosa de Sangue" editado em 1970
“Tu de todos os sagrados, ultrajados e sábios nomes”.
Mãe de rameiras e iniqüidades,
Que suporta o fiel na destruição e chamas,
Confessando ações vis e blasfêmias.
Pela Terra, Seu corpo fértil, Abençoada Seja.
E pelas Águas Viventes do Seu útero,
Pelo Ar, Seu sopro que se move no mar,
Pelo chamado de vida da grama verde da tumba,
Pelo Fogo, Seu Espírito,
Abençoada Seja com poder!
As Crianças de Seu Amor nascem entre a destruição
Possa haver Luz e clareza nas horas negras
Brilhe Lua Branca, Cresça nos caminhos
De cada um , eterno caminho apaixonado.
Abençoe e ilumine a todos,
Evo-he ““.
História da Tradição
A Fairy Wicca ou Tradição das Fadas tem em comum com as outras vertentes da Arte uma tradição linear de mistérios e poder. Seus membros acreditam na comunicação direta com a Divindade. Isto é um contraste com algumas outras Tradições que praticam o psicodrama ritual em larga escala. Entre as características que mais distingue a Fairy Wicca está o uso do Poder das fadas, que caracteriza a linhagem desta vertente Wiccana, pois segundo os membros desta Tradição, seus ritos e conhecimentos tiveram origem entre os antigos povos da Europa da Idade do Bronze, que ao migrarem para as colinas e altas montanhas, devido às guerras e invasões, ficaram conhecidos como Sides, Pictos, Duendes ou Fadas.
Nesta Tradição é dada uma forte ênfase à expansão da consciência. É uma Tradição voltada à exploração espiritual. Os Fairy Wiccans respeitam profundamente a sabedoria da natureza e tudo o que a envolve. Os Deuses não são vistos como forças psicológicas, arquetípicas ou manifestação do inconsciente coletivo, mas são reais, com um sistema de moralidade diferente do nosso próprio e nós teríamos responsabilidade com cada um deles. Há um corpo específico de cantos e material litúrgico da Tradição. Muito disto se originou com Victor Anderson e Gwydion Pendderwen que forneceram um arsenal para muitos Círculos em funcionamento, cuja criatividade poética é altamente estimada. As práticas mágicas da Fairy Wicca (ou Feri, como Victor chama) são altamente invocatórias, encorajam a manifestação direta dos Deuses através de práticas como "Puxar a Lua Para Baixo", que confere talentos psíquicos ou sensibilidade especial para algumas práticas específicas.
Os Ritos da Fairy Wicca possuem diversos estilos e podem ser tirados de muitas fontes. Há uma linhagem iniciatória traçada desde Victor e Cora Anderson e Gwydion Pendderwen. As energias trabalhadas nesta Tradição incluem:
o a visualização do fogo azul;
o um corpo de material poético e litúrgico;
o Deuses e arquétipos específico da Tradição;
o a doutrina dos Três Selfs;
o o uso de um cíngulo de cor específica;
o um sentido de "tribo" ou "clã” para o Coven;
o a veneração ao Deus Cornífero como o Filho Amado e Consorte da Deusa.
Hoje existem várias facções da Tradição das Fadas, mas podemos apontar como característica inerente à maioria dos praticantes dela o uso dos espíritos da natureza, conhecidos como Fadas, Duendes, Gnomos, etc. em seus rituais. Embora o Victor Anderson seja reconhecido mundialmente como o professor-fundador desta Tradição, é possível identificar influências que formaram a Fairy Wicca antes de sua forma presente evoluir para ser o que é hoje.
Há influência de uma dispora africana muito forte, principalmente Dahomeana, e a Teoria do 3 Selfs (Selves-em inglês correto) foi trazida da Magia Kahuna. O material de Victor não é a única fonte dentro da Tradição e existem inúmeros outros.
A Fairy Wicca é uma Tradição extremamente aberta à evolução e cada iniciado traz uma direção nova às suas práticas e rituais. Alguns praticantes, como Gwydion e Eldri Littlewolf, enredaram em caminhos Xamânicos, além de trabalharem extensivamente com a Religião Céltica. Outras influências (como a Meditação Tibetana e Magia Cerimonial) começaram a fazer parte da Tradição com Gabriel Caradoc. Victor, Gwydion, Caradoc, Brian Dragon e Paladin escreveram lindas poesias e liturgias para rituais que são utilizadas até hoje pelos praticantes da Fairy Wicca em todo o mundo. As aulas de Gabriel forneceram treinamentos excelentes na liturgia da Tradição e seus estudantes continuam a transmitir seus ensinamentos. Francesca De Grandis, que compôs Sharon Knight, adicionou sua inspiração para o corpo de material litúrgico da Tradição e Starhawk usou os conceitos desenvolvidos na Fairy Wicca, expressando suas convicções e práticas, mas fornecendo explicações mais claras sobre o conceito dos 3 selfs e uso do Pentáculo de Ferro.
O Conceito do Self e os Pentáculos
Na Fairy Wicca, o conhecimento humano é dividido em 3 Selfs, Eus ou almas, como também são chamados. Eles são:
o Self Jovem;
o Self Discursivo;
o Self Profundo.
Os 3 Selfs podem nos ajudar a compreender como somos, como funcionamos e integrar as várias partes do nosso ser. O Self é o Eu, a individualidade e a identidade de cada ser humano. Cada pessoa utiliza mais um tipo de Self que o outro e, segundo a Fairy Wicca, é isso que a caracteriza cada um de nós. Além disso, podem ser muito úteis na hora de manipular a energia nos trabalhos mágicos. Abaixo uma pequena correspondência dos 3 Selfs:
Self Jovem: representa a mente inconsciente, ao hemisfério direito do cérebro. Nos comunicamos com ele através de símbolos, imagens e sensações. É ele que nos impulsiona a seguir em direção de nossos sonhos mais recontidos e a arriscar. Está associado à energia elemental do corpo (Raith), já que é através dele que recebemos energia e vitalidade. O Self Jovem percebe o fluxo das energias e se comunica sem a necessidade de palavras. Ele trabalha com o mundo das puras sensações que podem ser visuais ou auditivas. O Self Jovem contém toda a memória das experiências passadas, que emergem através dos instintos. No corpo humano, sua força está concentrada no Chakra Básico. Sua energia é gerada através da água e ar puros, exercícios físicos, sexo e através do transe.
Self Discursivo: representa a mente consciente, o hemisfério esquerdo do cérebro. É ele que organiza o que é concebido pelo Self Jovem. Ele funciona através da análise. É com ele que julgamos, inquerimos, culpamos e nos deixamos culpar. É ele que forma a realidade escondida por trás das aparências, racionaliza e define as experiências sensoriais. Aqui se encontra presente os nossos instintos sociais e necessidades. No corpo humano sua força está concentrada no Chakra Cardíaco. Sua energia é gerada através da combinação da energia de todos os seres.
Self Profundo: é o Divino que existe dentro de cada um de nós e não há referências psicológicas para explicá-lo. O Self profundo representa o espírito, a essência, que existe além do matéria, espaço e tempo. Ele é a junção das polaridades. Ele é o espírito que nos impulsiona e guia. Está associado diretamente ao Self Jovem e indiretamente ao Discursivo. É através dele que estabelecemos conexão com o Divino e a possibilidade de conhecer o passado, presente e futuro. A sua força está concentrada em nossa aura e no nosso Chakra Coronário. Sua energia é gerada pelo Universo e ritos sagrados.
*O Pentáculo de Ferro:
O Pentáculo de Ferro é um dos principais símbolos, utilizados na Tradição das Fadas, para possibilitar que cada pessoa trabalhe suas habilidade mágicas. Através dele aprendemos a dar forma às energias, transformar-se e explorar os 5 pontos do nosso Pentáculo interno:
o Sexo: que é a energia Primal;
o Self: o nosso Eu;
o Paixão: as emoções;
o Orgulho: A auto-estima;
o Poder: O poder interior.
Cada um desses pontos está associado a uma ponta do Pentagrama e o intuito de trabalhar com o Pentáculo de Ferro é fazer com que as 5 pontas estejam em perfeito equilíbrio e harmonia. O Pentáculo de Ferro é apenas uma das 3 formas principais de desenvolver e fortalecer o poder em cada pessoa segundo esta Tradição. Além dele existem mais outras duas que são consideradas essenciais:
*O Pentáculo de Pérola:
Que possui as pontas do amor, sabedoria, conhecimento, lei e poder.
*O Pentáculo de Chumbo:
Que possui as pontas do nascimento, Iniciação, consumação, repouso e morte
Tradição Gardneriana: Fundada por Gerald Gardner nos anos de 1950 na Inglaterra. Esta tradição contribuiu muito para Arte ser o que é hoje. A estrutura de muitos rituais e trabalhos mágicos em numerosas tradições são originárias do trabalho de Gardner. Algumas das reivindicações históricas feitos pelo próprio Gardner e por algumas Bruxas Gardnerianas têm que ainda serem verificadas (e em alguns casos são fortemente contestadas), porém, esta Tradição apoiou muitas Bruxas modernas. Gerald B. Gardner é considerado "o avô" de toda a Neo-Wicca. Foi iniciado em um Coven de Newforest, na Inglaterra em 1939. Em 1951 a última das leis inglesas contra a Bruxaria foi banida (primeiramente devido à pressão de Espiritualistas) e Gardner publicou o famoso livro ”Witchcraft Today”, trazendo uma versão dos rituais e as tradições do Coven pelo qual foi iniciado.
Gardnerianismo é uma tradição extremamente hierárquica. A Sacerdotisa e o Sacerdote governam o Coven, e os princípios do amor e da confiança presidem. Os praticantes desta Tradição trabalham "Vestidos de Céu" (nus), além de manterem o esquema de Seita Secreta. Nos EUA e Inglaterra os Gardnerianos são chamados de "Snobs of the Craft" (Snobes da Arte), pois muitos deles acreditam que são os únicos descendentes diretos do Paganismo purista.Cada Coven Gardneriano é autônomo e é dirigido por uma Sacerdotisa, com a ajuda do Sacerdote, Senhores dos Quadrantes, Mensageiro, etc. Isto mantém o linhagem e cria um número de líderes e de professores experientes para o treinamento dos Iniciandos. A Bíblia Completa das Bruxas (The Witches Bible Complete) escrita por Janet e Stuart Farrar, como também muitos livros escritos por Doreen Valiente têm base nesta Tradição e na Tradição Alexandrina em muitos aspectos.
Tradição Hecatina: Uma Tradição de Bruxos que buscam inspiração em Hécate e tentam reconstruir e modernizar os rituais antigos da adoração a esta Deusa. É algumas vezes chamadas de Tradição Caledoniana ou Caledonii.
Bruxo Hereditário ou Tradição Familiar: Um Bruxo que normalmente foi treinado por um ente familiar e/ou pode localizar sua história familiar em outro Bruxo ou Bruxos. Os Bruxos Hereditários são pessoas que têm, ou supõem ter, uma ascendência Pagã (mãe, tia e avó são os alvos mais visados). A maioria dos Hereditários não aceitam a infiltração de outras pessoas fora de sua dinastia, porém algumas Tradições Familiares “adotam” alguns membros, escolhidos “a dedo” em seu segmento.
Bruxa de Cozinha: Uma Bruxa prática que é freqüentemente eclética enfoca e centra sua magia e espiritualidade ao redor do “forno e do lar”.
Seax-Wicca ou Wicca Saxônica: Fundada em 1973, pelo autor prolífico, Raymond Buckland que era, naquele momento, um Bruxo Gardneriano. Uma das primeiras tradições precursoras em Bruxos solitários e o auto-iniciados. Estes dois aspectos fizeram dela um caminho popular.
Bruxo Solitário: Uma pessoa que pratica a Arte só (mas pode se juntar às festividades de Sabbat em um Coven ou com outros Bruxos Solitários ocasionalmente). Um Bruxo Solitário pode seguir quaisquer das Tradições, ou nenhuma delas. A maioria de Bruxos ecléticos são Solitários.
Tradição Strega: Começou ao redor na Itália em 1353. A história controversa sobre esta Tradição pode ser achada em muitos locais e em muitos livros. Aradia ...Gospell of the Witches (Aradia...A Doutrina das Bruxas) é um deles.
Tradição Teutônica ou Nórdica: Teutônicos são um grupo de pessoas que falam o norueguês, fosso, islandês, sueco, o inglês e outros dialetos europeus que são considerados “idiomas Germânicos”. Um Bruxo teutônico acha freqüentemente inspiração nos mitos tradicionais e lendas, Deuses e Deusas das áreas onde estes dialetos se originaram.
Tradição Asatrú: Teve suas origens no Norte da Europa e é uma das facções das Tradições Teutônica e Nórdica. Esta Tradição é praticada hoje por aqueles que sentem uma ligação com os nórdicos e teutônicos e que desejam estudar a filosofia e religiosidade da antiga Escandinávia, através dos Eddas e Runas. Encoraja um senso de responsabilidade e crescimento espiritual, freqüentemente embasados nos conceitos atribuídos aos nobres guerreiros de tempos ancestrais.
Tradição Algard:
Uma americana iniciada nas Tradições Gardneriana e Alexandrina, chamada Mary Nesnick, fundou essa "nova" tradição que reúne ensinamentos de ambas tradições sob uma única insígnia.
Bruxaria Tradicional: Todo Bruxo tradicional dará uma definição diferente para este termo. Um Bruxo tradicional é aquele que freqüentemente prefere o título de Bruxo a Wiccano e define os dois como caminhos muito diferentes. Um Bruxo tradicional fundamenta seu trabalho mágico em métodos históricos da tradição, religiosidade e geografia de seu país.
Tradição Galesa de Gwyddonaid: Uma Tradição Galesa Céltica da Wicca, que adora o panteão galês de Deuses e Deusas. Gwyddonaid foi quem grosseiramente traduziu a ignóbil obra galesa "Árvore da Bruxa (Tree Witch)" e propagou esta forma de trabalhar magicamente.
As Tradições
Veja resumo por datas abaixo, respectivamente pela ordem: Ano de Fundação / Nome da Tradição e/ou Fundador.
1951 Gerald Gardner e seu Coven
1953 Tradição Traditionalist (Cochrane) Witchcraft
1954 Tradição Rhean.
1955 Tradição Boread.
1957 Tradição 'Brighton Coven Craft’
1963 Tradição Alexandrian Witchcraft
1964 Tradição 1734
1965 Tradição 'Sara Cunningham's Family’
1966 Tradição The Regency
1968 Tradição Ordem da Silver Crescent
1968 Ordem Majestic / Tradição Majestic.
1968 Tradição Church and School of Wicca.
1967 Tradição Alexandrian Witchcraft (Ramo Alemão)
1969 Tradição American / Mohsian
1970 Tradição Alexandrian Witchcraft (U.S.A.)
1970 Tradição Dianic (MacFarland) Witchcraft de Wicca Feminista
1970 Tradição Pagan Way Witchcraft
1970 Tradição American Celtic (Sheban)
1970 Tradição Sisterhood and Brotherhood of Wicca
1970 Tradição Du Bandia Grasail Line
1970 Tradição Church of the Eternal Source
1970 Tradição Sicilian Witchcraft (na América)
1972 Tradição Keepers of the Ancient Mysteries
1972 Tradição Seax-Wicca
1973 Tradição Kingstone
1973 Tradição Americana da Assembly of Wiccan
1973 Tradição Open Goddess Tradition
1973 Tradição Druidic Craft of the Wise
1974 Tradição Dianic Feminist Witchcraft
1974 Tradição Isian
1974 Tradição Western Isian
1974 Tradição Algard Witchcraft
1974 Tradição American Traditional Witchcraft
1975 Tradição Blue Star Witchcraft
1975 Tradição Minoan Brotherhood
1975 Tradição Maidenhill Tradition
1975 Tradição Ganymede/Chthonioi branch
1975 Tradição Gardnerian-Eclectic Witchcraft
1975 Tradição Halifax
1975 Tradição Ravenwood
1976 Tradição Cerridwen
1976 Tradição Glainn Sidhr Witchcraft
1976 Tradição 'The Tradition'
1976 Tradição The Roebuck / Ancient Celtic Church
1977 Tradição Temple of Danann
1978 Tradição Hyperborean
1978 Tradição Celtic Wicca (Nossa Senhora do Encantamento)
1979 Tradição Odyssian Tradition (Wiccan Church of Canada)
1980 Tradição Unicorn
1980 Tradição Minnesota Church of Wicca
1980 Tradição Celtic Traditionalist (Fox woods) Witchcraft
1982 Tradição Minoan Sisterhood
1982 Tradição Alexandrian Witchcraft (Irlanda)
1983 Tradição Aquarian Tabernacle
1984 Tradição Communitarian Witchcraft / Wicca Communitas
1983 Tradição Windblown
1985 Tradição New Albion
1985 Tradição Pagans for Peac
1985 Tradição Pagan Way Witchcraft
1985 Tradição Caledonii Tradition
1986 Tradição do NFG branch
1986 Tradição Rainbow Wheel
1986 Tradição North wind
1986 Tradição Sacred Grove
1987 Star Kindler
1987 Tradição Star Kindler
1990 Tradição Eleusinian Tradition
1990 Tradição Blackring Witchcraft
1990 Tradição Serpentstone
1990 Tradição Star Sapphiran
1990 Tradição Crystal Moon
1990 Tradição Chthonian Tradition
1990 Tradição Ceili Sidhe
1991 Tradição Protean
1991 Tradição Neo-Alexandrian Witchcraft (Canadá)
1991 Tradição Black Forest
1991 Tradição Protean
1991 Tradição Califórnia Gardnerian (CalGard) Witchcraft
1992 Tradição Tuatha De Danann Tradition
1993 Tradição Daoine Coire
1994 Tradição Cornfield Tradition
1996 Tradição Aglaian
1996 Tradição Reformada
1996 Tradição Oldenwilde Traditional Witchcraft
1997 Tradição Knight Phases
1997 Prytani Tradition (Clan Ragan)
1997 Tradição Morganan Tradition
1997 Tradição Elemental Spirit
1977 Tradição Brighton Traditional Craft
1997 Tradição Dragon's Weave
1998 Tradição Earthwise
1998 Tradição Evergreen Tradition.
Porque sou Bruxa....
Sempre que abro os olhos, ao despertar, me emociono por mais um dia para viver, livre e comprometida com as coisas e as causas da Grande Mãe. Neste momento, procuro refletir a respeito dos tantos dias que nos foram tirados, por inveja, injúria e cobiça, e peço luzes e força a Deusa Mãe para o dia de hoje.
Sou uma bruxa porque, ao abrir as janelas e respirar o ar da manhã, agradeço à Deusa pelo dom da vida e celebro o Pai ar pela sua presença em mim.
Sou uma bruxa porque, ao me alimentar, celebro aquele bendito alimento e bendigo todos aqueles que contribuíram com seu trabalho para que o mesmo chegasse à minha mesa.
Sou uma bruxa porque, sempre de alguma forma renasce o amor em mim, e minha alma agradecida transmite luz.
Sou uma bruxa porque sempre me envolvo e me comprometo a serviço da justiça e da paz no mundo.
Sou uma bruxa porque estou sempre insistindo em abrir as portas do meu coração, para transmitir os ensinamentos dos antigos e facilitar o despertar da grande arte nos corações dos que me cercam.
Sou uma bruxa porque estou sempre acendendo um fósforo sem maldizer a escuridão.
Sou uma bruxa porque busco a verdade sem jamais me conformar com a mentira e o subterfúgio.
Sou uma bruxa porque sempre renuncio ao egoísmo e procuro ser generosa.
Sou uma bruxa quando sorrio para alguém, mesmo estando muito cansada, pois conheço o valor do sorriso.
Sou uma bruxa quando preparo um chá que vai curar, ou pelo menos amenizar a enxaqueca daquela vizinha chata.
Sou uma bruxa quando tomo um animal em meu colo para lhe amenizar a dor. Quando planto e colho uma erva e agradeço a Gaia por tamanha dádiva.
Sou uma bruxa quando persigo a luz de uma estrela com o olhar e o coração nas trevas que nos circundam. Quando levo a fé nos Deuses por entre linhas, apenas com minhas ações.
Sou uma bruxa quando, em rijo, sinto o rio do sangue da vida que escoa nas minhas entranhas. Quando sou fogo que estimula o coito, e água que transforma e modifica cursos.
Sou uma bruxa porque me aconchego no seio sagrado da terra, voltando ao colo sagrado. Quando abro o círculo invocando os ventos do norte, buscando no canal dos antigos o néctar do renascer.
Sou uma bruxa porque quando falo em liberdade me sinto águia. Quando falo de sabedoria me sinto coruja, e quando falo do belo me sinto arara.
Sou uma bruxa porque estou sempre atenta ao perfume, que não posso derramar no próximo sem que também me atinja, e a lei tríplice se faz em mim.
Sou uma bruxa quando vivencio o sabor do pão partilhado. Quando procuro pedir perdão e recomeçar.
Sou uma bruxa quando me recolho ao silêncio perante um julgamento preconceituoso ou injusto a meu respeito, e entrego ao tempo, o único pólo óptico da verdade imutável.
Sou bruxa quando desenvolvo em meu ser a humildade de viver e morrer como o grão de trigo, para depois frutificar searas de luz, de tenacidade e de esplendor.
Sou uma bruxa porque estou sempre ressurgindo das cinzas como Fênix. E assim, retomo a minha vivência concreta, cujo itinerário principal é a minha Deusa interior, forte, guerreira, translúcida, serena e amorosa a despertar em mim.
Por tudo isso sou uma bruxa!
por Jeane Silveira
MISTÉRIOS DO SANGUE
"O sangue é um fluido especial e o atributo líquido da realeza do homem".
"Fluido especial".
"Água real de nossa vida".
Muitos mitos, conceitos e definições envolvem esta substância tão misteriosa que é o nosso sangue.
A verdade é que quando examinado em microscópio o microbiologista verá glóbulos brancos, vermelhos, plaquetas..., entretanto quando examinado por um clarividente treinado o que se observa é um fluido, um gás, uma essêcia espiritual. Ele contém os registros de todos os acontecimentos da vida da pessoa. Todas as imagens estão registradas ali.
O Ego da pessoa está contido no sangue e é ele quem produz calor, além disso é mais poderoso que o espírito-grupo do animal.
O nível vibracional do sangue humano é muito superior ao sangue do animal.
Se inocularmos sangue humano em um animal ele perecerá pois é incapaz de suportar as altas vibrações que estão no ser humano e morrerá. Por outro lado o ser humano nada sofrerá se receber sangue animal (no aspecto vibracional).
Naturalmente não recomendamos nenhuma experiência nesse sentido.
Nos tempos primitivos era proibido alguém pertencente a uma tribo, casar-se com membros de outras tribos justamente para que não houvesse "contaminação".
O matrimônio fora da família era considerado crime, como agora casar-se dentro dela é considerado um mal.
O casamento na família ou tribo foi o que gerou o egoísmo, o espírito de clã, o conflito e a luta no mundo.
Para acabar com isso a prática devia ser interrompida e quando o Cristo veio à terra advogou a interrupção desse hábito.
Enquanto estivermos ligados ao velho sangue, aos velhos caminhos não poderemos fundir-nos em uma fraternidade universal.
Isso pode ser alcançado com as pessoas casando-se além das fronteiras para que haja a fusão entre nações.
Na morte o sangue venoso impregnado de impurezas adere a carne, enquanto que o sangue arterial fica "limpo" e permite ser examinado sob a Luz Astral.
O SANGUE E O FEMININO
O sangue menstrual está relacionado com a Lua Nova, assim como o rompimento do hímem relaciona-se com a Lua Crescente.
Já o sangue do parto está ligado à Lua Cheia e a interrupção do fluxo menstrual, ou seja, a menopausa remete à Lua Minguante.
CURIOSIDADES
- O fluxo menstrual absorve energia astral e as mulheres estão mais aptas a curar nesse período, pois conseguem "aterrar" energias nocivas através do sangramento físico.
- A Lua Nova representa o início do período menstrual.
- A Lua Cheia representa a ovulação, a fertilidade, a Lua e o Feminino. Simboliza os poderes de transformação da energia lunar.
- No passado quando o culto à Deusa e ao feminino era largamente praticado o sangue era utilizado nos campos e nas sementes para fertilizar a terra. Leite e sangue eram misturados e oferecidos às forças geradoras dos campos.
- Foi também utilizado para ungir os mortos, tamanha era sua simbologia.
Retirado do Blog senhora do Bosque
BRUXAS...MULHERES DE PODER....
As mulheres que tanto a história como a imaginação popular mitificaram como “bruxas” constituem figuras que expurgam as fobias da Contra Reforma. As bruxas foram torturadas e queimadas para sinalizar os perigos de práticas e saberes à margem da Igreja e de outras instituições dominantes na Idade Moderna. Parteiras, curandeiras e carpideiras, as bruxas misturam em seu caldeirão os mistérios da vida e da morte herdados das tradições pagãs. Este artigo percorre textos de historiadores, em especial o de Jules Michelet, que no século XIX construiu a imagem romântica e martirizada da bruxa, e o manual de inquisidores do século XIV, o Malleus Maleficarum, que descreve os poderes da bruxa, sua aliança com o demônio e sua ameaça para o cristianismo. Os discursos instaurados por tais textos constroem tanto a imagem que glorifica a bruxa quanto aquela que a execra, mostrando ambas o potencial transformador de suas práticas e de sua ligação com a sexualidade.
Fêmea inebriante ou velha decrépita, a figura da bruxa exprime alguns conceitos que o pensamento ocidental legou ao que se entende por feminino. Trata-se de uma imagem construída por diferentes discursos, um romântico, propagado ao longo do século XIX, e outro eclesiástico, expresso nos enunciados seculares da cristandade contra arcaicas práticas pagãs. A fim de mostrar a constituição dessa imagem, o presente ensaio se pauta, entre tantas leituras, no manual de inquisidores, datado do século XIV, chamado Malleus Maleficarum,1o “Martelo das Feiticeiras”, e no livro La Sorcière (A Feiticeira), do historiador Jules Michelet. Enquanto o Malleus Maleficarum descreve a bruxa coadunada com o Mal (colocado na figura do demônio) e a execra, o romantismo de Michelet a transforma em mártir, enaltecendo suas qualidades silvestres e sua ligação com os gênios da natureza. Ambos os discursos permitem vislumbrar as paisagens paradoxais sobre as quais a imagem da mulher independente, dona de seu corpo e de seu destino, se cria.
Ambígua, a bruxa pode ser tanto a bela jovem sedutora (ainda sem marido e cheia de pretendentes) como a horrenda anciã (viúva solitária), aparentada com a morte. Como um tipo psicossocial que emerge no final da Idade Média, essa imagem abarca uma ampla gama de traçados históricos sobre as mulheres e as várias etapas de suas vidas: infância, menarca, juventude, defloramento, gravidez, parto, maternidade, menopausa, envelhecimento e morte. O que a figura da bruxa ensina é um certo modo de enxergar a mulher, principalmente quando esta expressa poder. Ao longo de muitas eras da civilização patriarcal, a lição predominante sobre as mulheres que fazem uso de poderes ou que se aliam a forças que, de um modo ou de outro, a máquina civilizatória não consegue domar é bem conhecida de todos. Toda expressão de poder por parte de mulheres desembocava em punição. Cunhada dentro do cristianismo, a figura das bruxas traduzia-se em mulheres devoradoras e perversas que matavam recém-nascidos, comiam carne humana, participavam de orgias, transformavam-se em animais, tinham relações íntimas com demônios e entregavam sua alma para o diabo. Uma análise da farta literatura sobre o assunto nos mostra que a caracterização da bruxa que vigorou durante a Inquisição, ressoando até os dias de hoje, constitui-se como um dos elementos mais perversos produzidos na sociedade patriarcal do Ocidente.
Certo tipo de conhecimento de origem camponesa, com suas práticas e crenças que delineavam modos de tratar doenças e lidar com as situações-limite da existência (nascimento, acasalamento, geração, morte), é tido como criminoso dentro do contexto histórico da Contra Reforma. Atribuíam-lhe tantas coisas ruins que o Malleus Maleficarum afirma que “seus atos são mais malignos que os de quaisquer outros malfeitores”. Rompendo leis que certamente ignoravam, as bruxas encarnam tudo o que é rebelde, indomável e instintivo nas mulheres. Tudo aquilo que, nesse tipo de sociedade, demanda severas punições para que o feminino ‘selvagem’ se dobre ao masculino ‘civilizado’. Como personagem de imaginários em que as fronteiras entre real e ficcional estão densamente dissolvidas, a típica malvada dos contos de fadas e de várias histórias infantis traz muitos elementos da figura da bruxa descrita pela Inquisição. Histórica, a bruxa modifica-se dentro das eras, ficando em sua imagem as marcas que a sociedade lhe impôs. Marcas expostas em praças públicas através do espetáculo de seus suplícios e da execução das sentenças mortais que lhe eram imputadas. Pagando por crimes tais como dançar nua sob o luar, a bruxa é marcada pelo despudor e pela degeneração do corpo. Mulheres incômodas para a comunidade, viúvas solitárias ou vizinhas indiscretas, as bruxas eram aquelas cujas práticas eram consideradas crimes mais graves do que as heresias. Sedenta por poder, a bruxa é maléfica e corruptora, de modo que, tanto na realidade como na ficção, todas as histórias de bruxas terminam com o castigo por sua insubmissão: forca, fogueira, solidão.
No léxico catequizante das eras que antecedem ao contemporâneo, a bruxa era o expurgo de todos os males atribuídos ao feminino, começando com o pecado original e a desobediência da “primeira mulher”, pintada como colaboradora de Satã. Protagonista de inúmeras condenações, a bruxa serviu como função pedagógica de cunho moralizador durante os séculos em que a Igreja focou a doutrina cristã no combate ao mal, inimigo personificado como o demônio, o adversário de Deus, Satanás. Vinculada à natureza, a bruxa estava ligada ao chamado “Príncipe do Mundo”, o diabo, que, mesmo aparecendo hermafrodita em algumas representações, é uma entidade explicitamente fálica, masculina. A mulher não pode disputar o poder do universo nem mesmo quando se trata de ser adversária da divindade masculina central. Na lógica patriarcal, o poder da bruxa advinha de sua convivência com os demônios e do seu pacto com o diabo. Era inconcebível imaginar que a mulher, por si própria, tivesse a capacidade de curar e lançar malefícios sobre o corpo ou realizar certos fenômenos ditos “sobrenaturais”. No Malleus Maleficarum fica claro que, se alguma bruxa operou algum prodígio sem a ajuda do diabo, certamente foi porque serviu como instrumento para que Deus realizasse alguma das obras necessárias para o aperfeiçoamento do ‘plano divino’. Como subordinado de Deus, o diabo servia- se da bruxa para testar a fé dos homens e também de mulheres virtuosas. Mesmo as damas de ‘boa conduta’ eram suscetíveis aos cortejos infernais porque as mulheres eram mais ‘facilmente seduzidas pelo pecado’.Por pecado, subentenda-se a luxúria, o desejo sexual “disseminador do pecado original”.A sexualidade, instância diabólica, era vista como “besta imunda” pelos eclesiásticos autores doMalleus. Todas as artimanhas atribuídas às bruxas, sortilégios, encantamentos, adivinhações, práticas de sedução, vôos noturnos, desembocam no ato carnal da junção de corpos e sexos ou na geração que lhe é conseguinte. Sucumbir aos desejos da matéria era tido como perdição para o espírito. Toda corrupção era oriunda do ato venéreo e as impossibilidades em praticar o ato carnal, conceber ou abortar após ter concebido eram consideradas bruxaria.4 Com o auxílio dos demônios, as bruxas tinham o poder, direto ou indireto, de impedir a aproximação dos corpos de homens e mulheres, pois “Deus outorga ao diabo poderes muito maiores sobre o ato venéreo”.
Copuladora, a bruxa é a mulher perversa que “ardentemente tenta saciar sua lascívia obscena”, aquela cuja cobiça carnal é causa de infidelidade e cujo “fascínio desmedido” pela concupiscência faz dela alegoria da ambição e da luxúria. Mulher fatal, mortífera, causa de perdição, a bruxa advém das antigas deusas, da Lilith hebraica, dos ritos dionisíacos e dos bacanais. Aparece no Apocalipse como a grande meretriz “com a qual se contaminaram os reis da terra e que inebriou os habitantes da terra com o vinho de sua luxúria” , a toda adornada prostituta da Babilônia montada em uma fera escarlate, aquela que “se assenta sobre muitas águas” , cujo destino o profeta anuncia: vão despojar seus adornos, desnudar seu corpo, comer suas carnes e queimá- la no fogo. Torturadas, todas as acusadas de bruxaria confessavam terem mantido relações sexuais com o demônio.
O Malleus Maleficarum explica que a “natureza” dessas relações não era necessariamente carnal, visto que os demônios eram espíritos e que mesmo os corpos daquelas que estivessem aparentemente dormindo em sua cama, ao lado dos maridos, participavam dos sabás. Rituais de sexo e luxúria, os sabás eram tidos como odes a Satã, festas macabras nas quais se comia carne de recém-nascidos, entrava-se em transe e após danças frenéticas as bruxas copulavam com o diabo. Foram descritos como missas negras, nas quais os adeptos renegavam a fé cristã por meio do que a Inquisição supunha ser um arremedo das práticas católicas. Pierre Töpffer enfatiza a diferença entre a missa negra, de elementos alusivamente anti-cristãos, e o sabá, termo que aparece no final da Idade Média para aludir a festividades não-cristãs, nas quais práticas da velha religiosidade camponesa, com resquícios do paganismo, ainda vigoravam. O termo é oriundo dossabat dos judeus, que também eram tidos como proscritos. Tanto em um como no outro ritual, o corpo ganha uma evidência bem maior do que na convencional missa cristã: os feiticeiros vão nus para o sabá e usam o corpo para dançar, comer e fazer sexo e, por sua vez, a maior parte das missas negras usam o corpo nu de mulheres, mais especificamente o ventre, como altar.
Mesmo com a finalidade de o fiel comungar ‘comendo’ e ‘bebendo’ do corpo e do sangue de Cristo, o que indica uma alusão muito forte ao paganismo, em particular aos cultos dionisíacos, a missa católica é um ritual asséptico onde ninguém come e bebe de verdade, não há saciedade para o corpo. De um modo totalmente teatral, os cultos cristãos explicitam a antropofagia das velhas religiões utilizando a simbólica do pão e do vinho, que surgem em minúsculas amostras. Todo estímulo aos sentidos, como sensações físicas, cheiros e sabores, é sutil, tal qual a música, e quase inexistente.Uma espécie de fusão sensorial com o divino é evocada na ritualística cristã tradicional, mas o corpo, com seus movimentos, volumes, expressões e odores, quase suprimido.
Os processos de bruxaria tinham um considerável enfoque nos corpos das bruxas: elas eram desnudadas à procura de um sinal que as pudesse recriminar. Procurando essa marca, “a marca da bruxa” e/ou a “marca do diabo”, seus pêlos eram rapados e todo seu corpo examinado e perscrutado. Agulhas eram fincadas em sua carne a fim de se detectar um ponto diabólico insensível. A maior parte das confissões era obtida depois de muitas sessões nas quais eram lhes imputados flagelos. Em máquinas como “a donzela de ferro” e os “borzeguins”, ou nas torturas sobre a água, no aquecimento dos pés e na introdução de ferros sob as unhas,a ré passava por tantos suplícios que acabava por admitir as sentenças elaboradas pelo inquisidor. “Com a tortura, pode-se fazer confessar tudo”, comenta Jean Delumeau em sua História do medo no Ocidente.9 A fome e privação de sono às quais eram submetidos os acusados de feitiçaria também rompiam “qualquer resistência”,a ponto de admitirem todas as atrocidades que lhes eram atribuídas. Na maior parte das vezes as bruxas eram condenadas à morte, mas não bastava enterrá-las, pois se acreditava que tinham a capacidade de emergir de dentro das sepulturas. Tal qual uma vampira, a prostituta da Babilônia aparece como “ébria de sangue dos santos e dos mártires de Jesus” , aquela cujo transe orgiástico e cuja presença no festim dos sentidos ameaçavam a doutrinação transcendental da Igreja. Por isso era necessário queimar seus corpos e lançar suas cinzas ao vento, para que, através das artes diabólicas, seu corpo não fosse capaz de se reconstituir. Há vários casos em que as filhas eram acusadas e queimadas tais quais suas mães, pois se acreditava que, desde muito cedo, além de serem oferecidas ao demônio, todas as filhas de bruxas eram iniciadas por suas mães nas artes da feitiçaria. Não podemos dizer que as pobres acusadas dos séculos XV a XVII foram efetivamente uma ameaça para o clero vigente, mas a condenação de heresias que incentivou os processos contra bruxaria implicava a afirmação do poderio religioso, ideologicamente teocentrista, como resposta à redescoberta do humanismo greco-romano. Não há humanismo que não dialogue com o corpo, suas relações com o espaço, com as medidas e formas do homem, suas representações e sua exposição. O corpo jovem da estética clássica é valorizado como modelo de perfeição enquanto que os corpos mais grotescos e disformes abundam na iconografia do Inferno. Estreitamente ligada ao corpo (curandeira, camponesa, dona-de-casa, amante, prostituta, parteira), a bruxa é um dos agentes sociais escolhidos para expurgar os temores coletivos por meio do perecimento carnal.
Aquelas que “fizeram um tratado com a morte e um pacto com o inferno”traduzem o que o historiador Pierre Pierrard diagnostica como o medo presente no início da Idade Moderna: “a guerra endêmica, as epidemias, a atroz peste negra de 1348, a miséria, o banditismo dos caminheiros e a revolta dos pobres”, que colocam o homem da época “em contato permanente com a morte. Às efígies suaves, sucedem-se, nos túmulos, anatomias arruinadas pela doença e a velhice, marcadas pela vida. As ‘danças macabras’ povoam os afrescos, as miniaturas e os poemas, misturando no mesmo desprezo papas, reis, lindas mulheres, clérigos e monges”.12 Em sua História da Igreja,13 o autor comenta que a mentalidade animista, os encantamentos e os ritos de magia ocupavam considerável espaço no ‘cristianismo’ da população rural de modo que “a superstição mal se distingue da devoção”, deixando espaço para todas as crenças que encontramos nos documentos relativos à caça às bruxas.
A crescente pobreza, que acompanha a extinção do feudalismo e o desenvolvimento dos centros urbanos, produziu histórias sobre bruxas que comem pessoas desenterradas e se alimentam de carne podre. Em sua pesquisa sobre missas negras, Pierre Töpffer assinala que “a miséria deve ter engendrado muitos excessos rapidamente identificados com práticas feiticeiras”.Encontramos a freqüente imagem do caldeirão da bruxa e seu conteúdo repugnante, que se acreditava ser sopa de criancinhas assassinadas. No estudo de Fernando Del Oso, essas poções diabólicas são descritas como possuidoras de sabor hediondo, contendo ingredientes excêntricos, tais como asas de morcego, que estavam associados ao poder de voar. O conteúdo do caldeirão era servido nos encontros de bruxas ou usado nos preparativos para os festins. Acreditava-se que através dos ungüentos, com os quais cobriam o corpo para irem ao sabá, as bruxas podiam levantar vôo ou ir de uma cidade para outra em poucos instantes.
Banhos, práticas de limpeza e medicina caseira também causavam suspeitas de bruxaria. Ao contrário do que os ocultistas denominam “alta magia” ou “magia branca”, envolvida com alfabetos antigos, talismãs cabalísticos e hierarquias angélicas, a “negra” magia das bruxas constituiu-se na cozinha e sobre os demais afazeres domésticos do cotidiano das mulheres.
E é no contexto das inumeráveis tarefas do cotidiano feminino que a bruxa é descrita, no século XIX, como “mártir universal” pelo historiador Jules Michelet.17 Driblando as adversidades financeiras, a fome e o trabalho extenuante, a bruxa acabaria por deixar-se aliciar às forças malignas. Romântico, Michelet nos mostra a imagem da bruxa como exilada, morando sozinha em lugares ermos da natureza, exposta às intempéries, aos ventos fortes e às tempestades. Como uma ameaça à sociedade, muitas vezes expulsa de sua aldeia, a bruxa era isolada, uma fugitiva que, cedo ou tarde, seria procurada para servir como confessora de apaixonados e intermediar os mais diversos prodígios exigidos por aqueles que se arriscavam indo atrás de seus poderes.
Ao tratar das bruxas, Roberto Sicuteri refere-se ao arquétipo da mulher selvagem a partir da dificuldade do civilizado em conviver com a ferocidade feminina, sedimentando-se assim “a hostilidade para com os conflitos sexuais” e toda uma “aversão pelos instintos” que acompanham os preconceitos sobre mulheres independentes. Na mulher anterior a Eva (criada na semelhança e na igualdade com Adão), na mulher livre, fugitiva e “dona de si”, os temores seriam projetados.Em sua História do medo no Ocidente, Jean Delumeau mostra a mulher como bode expiatório, sobre o qual “uns e outros exprimiam seu medo de subversão com a ajuda de um estereótipo há muito tempo constituído”:19 a bruxa de olhar petrificante, mortal, enrijecedor. Personificação da atordoante falicidade do feminino, provocando ereções, causando impotência e até retirando ilusoriamente o membro viril, as bruxas manejam amplamente as partes mais íntimas dos corpos, transitando por tudo aquilo que se denomina “os terrores do coito”. Cheia de raiva e agressividade, a mulher que detém o falo é a efígie castradora que ameaça o masculino, sendo comum que a misoginia inerente à figura da bruxa seja interpretada dentro do binômio falo/castração da tradição psicanalítica.
Mesmo nas velhas, a presença de todo um clamor desejante e de inevitáveis atribuições fálicas faz de todas as bruxas figuras sexualizáveis por excelência. Como fator- chave na diabolização da mulher, a sexualidade feminina20 apresenta-se sempre acompanhada de insaciedade, produzindo-se, assim, a imagem da bruxa voraz, a ogra devoradora que engole todos os seus filhos. Talvez como subproduto da miséria, sua fúria é o resultado de um imenso apetite impossível de ser satisfeito. Essa fome é intensificada no sexual e vem impressa no mito da avidez vaginal, sendo a boca da vulva considerada como a parte mais insaciável da mulher.
Seus aspectos noturnos, funestos e lunares afastam- na das racionalidades. Parece difícil concebermos a bruxa como um personagem conceitual, pois seu devir não faz parte de uma filosofia, mas frui de sentimentos, percepções, intensidade pura de um corpo que sofre e goza. Sua existência histórica se deve à poesia clássica e ao direito canônico, literatura e retórica, fontes documentais que registram a bruxa como elemento lendário e ao mesmo tempo vívido para muitas sociedades. Seu tipo psicossocial está na fila das anormalidades, enquadrando-se na categoria dos monstros, próxima do animal, mas cheia de humanidade.22 Defeituosa, a bruxa não consegue ser descolada de seu corpo e de suas artes. Felix Guattari e Gilles Deleuze dizem que a arte é um modo de pensar através do percepto. Primeiramente, a bruxa é o que eles chamam de “figura estética”, pura potência de “afetos que transbordam as afecções e percepções ordinárias”.
Senhora dos descontroles, a bruxa guarda, sob os panos, truques que servem para confundir, embaçar e atrapalhar a razão, fazer com que os cursos do pensamento sejam deslocados. No alvorecer das ciências psíquicas, as mulheres atordoadas pelo demônio, assim como toda sorte de “enfeitiçados”, como, por exemplo, as religiosas do convento de Loudun, serão tidos como histéricos. A identificação da histeria, espécie de sujeição a uma “dupla mudança”, com o feminino se deve ao fato de que o histérico, como aponta o psicanalista Philippe Julien, “procura confundir os hábitos de pensamento socialmente aceitos, perturbar os referenciais do saber universitário pondo à mostra seus limites, seus avatares e seus percalços”.Os efeitos somáticos da histeria não se descolavam da sexualidade; era uma “desordem das paixões” com sua duplicidade “que não se deixa agarrar”, uma patologia advinda do útero e se seus imensuráveis humores. Doença manifestada pelo corpo, a histeria é o sintoma do desejo de um desejo, expressão física da Falta, do amor pelo pai derrotado e diminuído, colocando para fora a própria castração através de gritos, uivos lancinantes de impotência, paralisações, dores, palpitações.
Com sua gargalhada estridente, pode-se dizer que a bruxa é personagem conceitual da psicanálise e das psicologias; a bruxa-histérica e suas disfunções da libido são os extremos damascarada: choro e riso, mutismo e rumor, crueldade e compaixão – oscilações que configuram os humores femininos presos à matéria instável, sujeitos ao tempo e às mutações que o homem pouco controla. É uma figura que transita no pantanoso terreno do irracional, da carne e da animalidade. Andrógina, a bruxa é monstruosa porque traz consigo a mistura das espécies e a mistura de sexos diferentes. Mulher-árvore encarquilhada pelo tempo, mulher-loba correndo pela floresta nas noites de lua cheia, mulher e besta, a bela e a fera. A bruxa, como todos os monstros, é híbrida. Bissexual, a promiscuidade da bruxa mostrava o quanto era perversa e animalesca. Disfarçando seus pés com formas de garras, a bruxa engana fazendo com que todo seu hibridismo pareça ilusão, pois seu aspecto monstruoso esconde-se por baixo das saias.
O território da bruxa é como o deserto produtor de miragens, o mundo alucinatório dos transes, o discurso eterno e atordoante da confusão infernal, o limiar da loucura. Como solucionadora ou culpada dos problemas, sua figura faz parte de acontecimentos drásticos: o desespero de certos apaixonados, o acometimento de enfermidades, acirradas lutas pelo poder e outros abalos, como tempestades, a morte do gado ou o extravio de colheitas. As bruxas podem ser personagens conceituais, pois cumprem com o papel de “manifestar os territórios, desterritorializações e reterritorializações absolutas”, porque marcam um modo de pensar cujos “traços personalísticos se juntam estreitamente aos traços diagramáticos”25 que constituem o plano de imanência. Este é o plano dos pensamentos, uma superfície na qual estão colocados os conceitos e suas incontáveis possibilidades de composição. A bruxa é aquela que se compõe junto a uma grande variedade de pré-conceitos pensados sobre o feminino, sobre o corpo, a natureza e os ciclos de nascimento, vida e morte.
As descrições do Malleus Maleficarum ajudaram a construir uma imagem fantástica sobre pessoas, na maior parte das vezes mulheres, capazes de se transformarem em animais, voarem, percorrerem grandes distâncias em segundos e manipularem os humores corporais. Todos esses prodígios eram ineficientes depois que as bruxas eram tomadas sob o jugo da Igreja, conseguindo, no máximo, ludibriar seus algozes por meio de palavras ou olhares diabólicos. Acreditar ou desacreditar nas incríveis proezas da bruxa não é servir-se de um certo encadeamento simbólico e de configurações imaginárias, que fazem com que seus traços passem ao ilusório campo das sublimações. Pensar sobre uma ótica psicanalítica é fazer da bruxa uma alegoria, típica projeção dos terrores da castração.
Tipo psicossocial ligado aos resquícios pagãos da Idade Moderna, a bruxa carregou em seu corpo os saberes não-racionais que a sociedade dessa época temia. Como figura estética, potência plena de afetos, a bruxa expressa o poder das grandes Deusas, a divinização da Natureza e a terra-corpo como sagrados. É um pensar que sente a matéria que nos engole, não mais sob a perspectiva egóica e neurótica, mas sim com a percepção esquizóide de que tudo faz parte dessa imensurável devoração. É um pensamento indistinto, demoníaco, arcaico e em devir. Como personagem conceitual para esse pensamento, diferente daquele instaurado pela História da Filosofia, a bruxa traz um conhecimento ‘outro’, marcado pela indistinção. Conhecer sua realidade, pele concreta das coisas marcada na passagem da vida, é extrair o ardente espectro de um corpo agonizante. Corpo pleno, que fulgura na singularidade da carne, além do organismo, estendido ao corpo da Terra e ao do céu que a circunda. Corpo- mundo engolidor.
By Brixta Lofn