Muitos imaginam as bruxas como feiticeiras velhas e feias voando em cabos de vassouras ou atuando em ritos obscenos, integrantes de um culto maluco, basicamente preocupadas em amaldiçoar os seus inimigos através da perfuração de imagens de cera com alfinetes e carentes dos propósitos de uma verdadeira religião.
Mas a Feitiçaria é uma religião, talvez a mais antiga religião existente no Ocidente, nasceu há cerca de mais de 35 mil anos atrás.
A Feitiçaria retira seus ensinamentos da Natureza e inspira-se nos movimentos do sol, da lua e das estrelas, no vôo dos pássaros, no lento crescimento das árvores e nos ciclos das estações.
Acredita-se que o homem começou a honrar a sua terra-mãe que lhe provia o sustento, isto na época de um resfriamento na crosta terrestre. Há muitos anos, nos primórdios da humanidade, grupos de caçadores seguiam as renas lépidas e os imprevisíveis bisões. Eles estavam armados, somente, com as mais primitivas armas, mas alguns entre os clãs eram especialmente dotados, "convocavam" as manadas até armadilha, onde alguns animais deixavam-se capturar.
Estes xamãs dotados entravam em harmonia com os espíritos dos rebanhos e, ao fazê-lo, percebiam o ritmo vibrante que inspira toda a vida, a dança da espiral dupla, o remoinho para dentro e para fora do ser.
Eles não exprimiam essa intuição intelectualmente, mas por imagens: a Deusa Mãe, aquela que dava à luz, que trazia para a existência toda a vida, e o Deus Galhudo, caça e caçador.
Os xamãs vestiam-se com as peles e chifres em identificação com o Deus e suas manadas; as sacerdotisas atuavam nuas, incorporando a fertilidade da Deusa.
A vida e a morte eram um fluxo contínuo; os mortos eram enterrados como se estivessem adormecidos em um útero, cercados por suas ferramentas e ornamentos a fim de que pudessem despertar para uma nova vida. Nas cavernas dos Alpes, crânios de grandes ursos eram fixados em nichos, onde liam os oráculos para guiar os clãs na caça.
No Ocidente, nos templos das grandes grutas do sul da França e da Espanha, os seus ritos eram realizados dentro dos úteros secretos da terra, onde as grandes forças antagônicas eram pintadas sob forma de bisões e cavalos, superpostos, emergindo das paredes da caverna como espíritos em um sonho. Em lagoas nas planícies, renas - suas barrigas cheias de pedras que encarnavam os espíritos dos cervos - eram imensas nas águas do útero da Mãe a fim de que as vítimas da caçada renascessem.
A dança espiral também era vista do céu: na lua, que mensalmente morre e renasce; no sol, cuja luz traz o calor do verão e, quando esta se vai, o frio do inverno. Registros da passagem da lua eram marcados em ossos e a deusa era mostrada a segurar o chifre do bisão, que também é a lua crescente.
Quando a terra começou a se aquecer novamente, alguns grupos se deslocaram para outras regiões, enquanto outros fixaram-se. Aqueles que possuíam poder interior aprenderam que estes aumentavam quando as pessoas trabalhavam juntas. À medida que os povoados isolados transformaram-se em vilas, xamãs e sacerdotisas uniram suas forças e compartilharam os seus conhecimentos. Os primeiros covens foram organizados.
Profundamente sintonizados com a vida animal e vegetal, domesticaram a região onde anteriormente haviam praticado a caça, criaram carneiros, cabras, gado e porcos, a partir de seus primos selvagens. As sementes não eram somente coletadas; elas eram plantadas, para crescerem no local do assentamento.
O Caçador tornou-se o Senhor dos Grãos, sacrificados quando da colheita no Outono, enterrados no útero da Deusa para renascer na primavera.
A Senhora das Coisas Selvagens tornou-se a Mãe da Cevada e os ciclos da lua e do Sol determinavam as épocas para semear e colher e soltar os animais no pasto.
Descobriu-se que certas pedras aumentavam o fluxo de energia. Eram colocadas em pontos adequados em grandes fileiras e círculos que marcavam os ciclos do tempo.
O ano tornou-se uma grande rosa dividida em oito partes: os solstícios e equinócios e, nos quadrantes entre estes, os dias onde grandes festas aconteciam e fogueiras eram acesas. A cada ritual, a cada raio de sol e da lua que atingiam as pedras nos períodos de energia, a força aumentava. Elas se tornaram grandes reservatórios de energia sutil, portais entre os mundos do visível e invisível.
No interior dos círculos, ao lado dos menires e dólmenes e galerias escavadas, as sacerdotisas penetravam nos segredos do tempo e na estrutura oculta do cosmo.
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